A ENTREVISTA que gostaríamos de ter feito a valter hugo mãe


sobre a obra a máquina de fazer espanhóis
pela turma do 10º ano da Secção Portuguesa
do Liceu Internacional de Saint-Germain-en-Laye

1
Esta obra faz parte de uma tetralogia que percorre, através de personagens distintas, o tempo completo da vida humana desde a infância à velhice, respetivamente o nosso reino (2004), o remorso de baltazar serapião (2006), o apocalipse dos trabalhadores (2008), a máquina de fazer espanhóis (2010). Foi fácil escrever sobre uma fase da vida que ainda não viveu?
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Ao lermos o título da obra não podemos imaginar o enredo. O título vai intrigar-nos praticamente até ao fim do livro. O que pretendeu com um título tão misterioso e tão opaco?
3
A história inspira-se em factos reais que o marcaram ou só é da sua imaginação? Se não se inspirou em factos reais, de onde lhe vem este tema e a vontade de falar assim desse assunto desconhecido para a maioria das pessoas?
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No fim do livro, esperamos a morte do protagonista para fechar a obra, o que não acontece. Porque não? Alguma vez pensou matá-lo ou nunca foi uma opção?
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Porquê ter escolhido como protagonista um homem idoso e não alguém mais jovem?

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Se lhe tivesse ocorrido continuar a história, colocou a hipótese de o protagonista se reconciliar com o seu filho Ricardo?
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Por que razão escreveu com uma pontuação quase inexistente? Fê-lo para surpreender voluntariamente o leitor?
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O livro é muitas vezes vago em vários pontos como por exemplo a morte do Esteves que morreu de « felicidade ». Que efeito procura provocar no leitor ?
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Como lhe ocorreu a ideia de fazer do protagonista um assassino? Porque é que quis dar-lhe este aspeto um pouco lúgubre?
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Inspirou-se em pessoas que conhece para criar as suas personagens?  Os nomes foram escolhidos ao acaso, ou por uma razão precisa?
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O senhor era muito novo quando ocorreu a Revolução dos cravos e portanto não viveu a ditadura salazarista, tema evocado nesta obra. Os episódios narrados que ocorreram durante o Estado Novo são inspirados de fatos reais contados por testemunhas que os viveram ou são fictícios?
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Este livro foi dedicado ao seu pai que “não viveu a terceira idade”. A lembrança do seu pai esteve omnipresente na sua mente ao escrever a máquina de fazer espanhóis? Em caso afirmativo, essa lembrança fez com que lhe fosse difícil escrever este livro? Essa lembrança influenciou-o ao longo da narração do seu romance?
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Colocou alguma vez a hipótese da filha do protagonista, a Elisa, tirar o pai do lar?
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Por que motivo não fez com que os inspetores encontrassem a origem do incêndio que matou três idosos no lar?
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Por que é que criou o Medeiros como uma personagem tão detestável? Pretendeu fazer dele uma espécie de vítima dentro do lar?
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Descreve tão bem a terceira idade que eu gostava de saber se tem medo dela, ou se não receia e quer afrontar essa parte da vida?
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O que pretende transmitir-nos ao introduzir a personagem Esteves do poema de Fernando Pessoa neste livro?
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Retrata tão bem os sentimentos de alguém que perdeu alguém que amava. Já sofreu de um amor? Ou de uma morte?
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A dada altura, no livro, há um incêndio que mata três idosos. E alguns personagens como o António Silva, o Pereira, o Silva da Europa pensam que é uma acção propositada do pessoal para arranjar mais lugares no lar. É uma ideia que passou pela sua “cabeça”, é apenas ficção, ou é algo real de que teve conhecimento?
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 O romance descreve a maneira de viver das pessoas de idade. Teve ajuda de um familiar idoso para o escrever?
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Ao longo da história, o protagonista vai partindo as pombinhas que estão na nuvem da Mariazinha. Com que objetivo é que o pôs a fazer isto? Terá sido uma forma de criticar a religião católica, dominante em Portugal?
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Quando os habitantes do lar estão na fase terminal da sua vida, são enviados para a ala esquerda e todos percebem que a morte está próxima. Esta situação é verídica ou foi por si inventada?
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Porque escolheu utilizar o pseudónimo “Valter Hugo Mãe” e não o seu verdadeiro nome “Valter Hugo Lemos” para publicar as suas obras?
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O que representava a redação deste livro para si?
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Um momento que me marcou foi quando, no capítulo 14, o narrador mata a Dona Marta com um livro, após ter penetrado no seu quarto durante a noite. Contudo, ele “julgava ter dormido profundamente a noite inteira”. Por que razão é que o narrador matou a Dona Marta, ainda por cima, de uma maneira inconsciente?
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Também não percebi outra atitude do narrador. No capítulo 18, põe-se de pé na campa da mulher e pisa as flores ali colocadas pela filha, Elisa, justificando-se da seguinte forma: “nenhuma beleza vestiria aquela brancura para me enganar do vazio da pedra”. Nesta reação excessiva, não haverá uma falta de respeito pela mulher, e também pela filha?
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Qual é o autor ou o livro que o inspirou na redação desta obra?
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Por que razão escolheu mostrar um universo negativo no lar em vez de mostrar mais felicidade? Será que quis criticar algo vivido por algum familiar?
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O senhor pensa realmente que a vida num lar é assim como a descreve?
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Antes de escrever o livro a máquina de fazer espanhóis visitou alguns asilos para que a sua obra fosse o mais realista possível? Ou foi visitando um asilo que lhe veio a inspiração para este livro?
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Quando o protagonista é informado da morte da sua mulher o leitor lê um dos momentos mais comoventes da história. O autor conseguiu exprimir a sua tristeza e o seu desespero de tal maneira que o leitor pode perguntar-se: será que o autor viveu aquela situação (a morte da sua mulher) na sua vida?
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Na obra refere os poetas Fernando Pessoa/Álvaro de Campos e Eugénio de Andrade? Como poderia justificar essa escolha? São preferências pessoais?
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Que mensagem pretendeu transmitir com esta sua obra?
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Quando tempo demorou a escrever o livro e qual foi a primeira ideia que o incitou a escrevê-lo?
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Qual parte foi a parte do livro mais demorada a escrever?
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O senhor tem alguém da sua família a viver num lar? Em caso afirmativo essa pessoa ajudou-o ou influenciou-o?
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O autor disse que a sua obra permitiu criar uma terceira idade ao seu pai que não a viveu. Acha que o seu pai teria vivido a sua terceira idade num asilo como o protagonista da história?

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Ao longo do romance o protagonista transmite ao leitor uma ideia negativa do asilo. Será que o autor também partilha essa ideia dos asilos?
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Nesta obra o protagonista era barbeiro, terá um significado especial a escolha dessa profissão?
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De onde é que lhe veio essa ideia de falar de uma máquina de roubar a metafísica, termo muito abstrato?
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No início do livro o protagonista sente-se rejeitado pela filha, por ela o ter posto num lar. Se o seu pai tivesse que ir para um lar acha que ele se sentiria rejeitado por si, tal como António por Elisa?
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O nome do lar “Feliz Idade” que faz alusão à palavra ‘felicidade’  foi inventado ou inspirou-se do nome de algum lar que conhecia?
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Será que escreveu este livro para fazer refletir os leitores sobre os comportamentos das pessoas na época da ditadura e sobre os comportamentos das pessoas na época atual da república democrática?
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Os pesadelos fazem parte da vida dos velhos neste seu romance. Onde foi buscar essa ideia do pesadelo? A velhice é um pesadelo?
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A única mulher positiva/perfeita no romance é a defunta laura. Desde a filha elisa, algo imperfeita, passando pela dona leopoldina e pela dona marta, as mulheres não são as personagens mais positivas da obra. O que pretendeu com essa caracterização? Destacar a excecionalidade da laura?
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Como decidiu inventar uma terceira idade para si e para o seu pai, poderíamos ver no sr. Silva um alter-ego do seu pai, e no sr. silva da europa um alter-ego seu?
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Dedicou o livro ao seu pai, que não viveu a terceira idade. No entanto, o livro relata justamente uma vida na terceira idade. Porquê essa escolha? Não lhe parece algo contraditória?
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Em algum momento da sua vida partilhou a ideia de que seria melhor não haver Portugal e sermos todos espanhóis?
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O que significa a capa do livro onde encontramos cisnes com bigodes? (Porto Editora, 19ª edição, agosto de 2016) Foi ouvido quanto a esta escolha? Gostou dela?
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Dá-nos uma imagem negativa do lar. Pensa que poderia viver num lar se os seus filhos o obrigassem? Ou será que até podia ir viver de livre vontade numa instituição dessas tal como o fez o sr. silva da europa?
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No capítulo 13 o sr. silva diz que as cartas de amor que escreve à dona marta são sobre ele e ajudam-no a pensar. Este romance será sobre o valter hugo mãe e ajuda-o a pensar?
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O que pensaram os seus familiares ao ler este livro?
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Pensa que este livro pode ajudar algumas pessoas
a verem a terceira idade de outra maneira?
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Introduziu a personagem Esteves no livro o que achei interessante. Inspirou-se também em Fernando Pessoa noutros aspectos do livro? 
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No capítulo 14, o sr. silva inicia um pesadelo e depois entra numa crise de sonambolismo acabando por assassinar a dona marta a quem escrevia cartas de amor. Por momentos ficamos na dúvida sem perceber se realmente tudo não passa de um pesadelo. O nosso protagonista é um assassino que nunca se revela. O romance acaba por ser violento. O que pretende com esta violência? Parece-lhe verossímil?

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